domingo, 11 de abril de 2010

Cadáver

O que penso quanto ao cadáver desconhecido? Que emoções eles me trazem? Lembro como se fosse ontem, a primeira vez que vi a primeira peça no anatômico, lembro a ordem que as vi, primeiro algumas articulações, depois peças de membros superiores e inferiores. Peças "inteiras" demoraram um pouco mais.

Foram pessoas, indigentes, que um dia nasceram, cresceram, riram e choraram, sentiram dor, medo, mas também carinho, amor. Tiveram esperanças de uma vida melhor, assim como todos nós temos. Esperaram por mais felicidade, mais amor, melhores condições de vida. Mas o acaso do destino os levou à morte. Seus corpos, não identificados. Hoje são objetos de estudo. Objetos que outrora andaram, falaram, ouviram a doçura da música, sentiram o cheiro das flores, sentiram o gosto das especiarias, enxergaram a beleza das cores, e sentiram o toque da pessoa amada.

Nosso respeito para com eles, tem que ser o mesmo ou maior ao que temos pela nossa própria história. A morte nos é temerosa pelo medo do esquecimento. A morte destes desconhecidos deve ser honrada por seu nobre papel de ensinar novos médicos à salvar a vida daqueles que ainda vivem.

Este texto é o início de minhas reflexões sobre o assunto, para a confecção do texto final do convite de formatura. Outros provavelmente virão, até que o texto final surja.

2 comentários:

Pink Frog disse...

Bozo, achei muito bacana esse post.
E realmente concordo em relação o medo da morte e tals..
Beijos.

(E você nem é chato, e adoro quando você toca o foda-se!)

;**

Meu nome é Legião, pois somos muitos. (São Marcos 5, 9) disse...

"Esperaram por mais felicidade, mais amor, melhores condições de vida. Mas o acaso do destino os levou à morte."

Acaso e destino não são opostos e excludentes?

Bom, penso que devemos aos mortos o mesmo respeito que devemos aos vivos, mereçam estes ou não.

Agora, mais madura, toda vez que passo pelo Anatômico e manuseio aquelas peças, ou corpos, ou nacos de músculos numa bancada, penso que foram os bebês de alguém, e, na qualidade de ex-bebês, merecem minha delicadeza.

E antes de rir de alguma anomalia, ou fazer brincadeiras profanas, lembro que aquele que dorme o sono de Tânatos poderia ser meu mais querido ente, e recolho-me na minha missão de aprendizado.

E depois, quando o último pedaço de gente está mergulhado no formol, agradeço mentalmente pela oportunidade do conhecimento adquirido. É o único modo de pessoas que não foram "nada" na vida serem "alguma coisa"... Na morte. É a forma deles se tornarem eternos!